quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Relato de parto - Bruna Cercal





Caminhadas. Acupuntura. Massagem perineal. Agachamento. Chá da Naolí. Gengibre. Comida apimentada. Amor com o marido. Banho quente. Bola de pilates. Florais. Tudo que vocês possam imaginar para fazer no intuito de ajudar a entrar em trabalho de parto, eu fiz. Minha equipe passou a me acompanhar várias vezes por dia depois das 41 semanas (meus anjos), e sempre me tranquilizavam dizendo que estava tudo bem. Na consulta de 41 semanas e 6 dias eu chorei, chorei muito. E elas me resgataram... Eu sempre preguei aqui que a humanização não é apenas parir em casa. É parir onde você se sente segura. E foi isso que elas me lembraram. Eu sempre fui empoderada do meu momento e não podia me perder depois de tanta luta. Posso dizer que chegar até 42 semanas é um teste de paciência e de auto conhecimento. A pressão das outras pessoas é tão cansativa, que te levam ao teu limite. Tem que ter muita convicção e acreditar muito em você (sempre acompanhada de uma equipe que monitore seu bebê e diga que está tudo bem), pq senão vc cede! No dia que completei 42 semanas, acordei determinada... 6hs da manhã eu e meu marido fomos caminhar, cheguei em casa, chá da Naoli, banho quente e consulta. Fui super orientada, a Ana fez um toque e disse que eu ainda não tinha 1 dedo de dilatação (o que era normal já que eu não estava em trabalho de parto - cito isso pq muitos médicos usam a desculpa "da falta de dilatação" para a gestante sem que ela esteja em trabalho de parto ativo), e me pediu para caminhar bastante que a tarde ela viria fazer uma nova consulta. Lembro que deitei para descansar (sentia contrações irregulares, mas que não tomavam ritmo), e quando acordei, fui novamente caminhar com meu marido, durante 3 horas... Várias contrações no caminho, mas nada que me deixasse em alerta. Cheguei em casa, banho quente e consulta. Conversei muito com a Ana, e ela me orientou dos procedimentos caso eu não entrasse em trabalho de parto durante a madrugada.

Quando chegou a noite, lembrei que precisaria arrumar a mala da maternidade. Nesse momento, lembro que já começava a sentir meu coração em paz, e sentia que Deus me dava forças. Não consegui dormir durante a madrugada, pois sabia que estava muito perto de ter a minha Manu nos braços. Tinha decidido ir para maternidade pública, pois tinha certeza que se optasse pelo privado estaria mais distante do meu desejo pela forma de parto. Me levantei às 6hs da manhã, tomei um banho quente e longo com meu marido, apreciando aquele silêncio e bem emocionados... Mandei mensagem no grupo para a equipe falando que iria para maternidade, e recebi uma onda de mensagens de carinho e amor... Elas também pediram para eu tomar um café da manhã bem reforçado! Foi isso que fizemos... Eu e o Fe fomos em uma padaria que adoramos! Eu me sentia muito bem nesse dia pela manhã, em paz, com o coração aberto para recebe a Manu. Quando dei entrada na maternidade, começaram os questionamentos e comentários absurdos. O médico que me encaminhou para internação, apesar de ter sido querido, já me alertou que eles me encaminhariam para cesárea. Ele disse também que nunca na história da maternidade chegou alguém com 42 semanas, com a minha calma, e pedindo parto normal. Quando me encaminharam para o pré parto, encontrei com a Rose, uma das enfermeiras do meu grupo que estava de plantão nesse dia. Santo anjo, faltam palavras para agradecer! Lembro que as enfermeiras que passavam por mim falavam "Vc que é a gestante de 42 semanas?" e cada vez que falavam isso, eu me empoderava mais. A Rose me encaminhou para um leito no pré parto onde não havia mais ninguém ao redor, tinha banheiro, luzes poderiam ficar apagadas, e tinha até uma área ao ar livre que mostrava o lindo dia que fazia lá fora. Fui encaminhada para uma sala e fui examinada por um médico recém formado. Ele me pediu para fazer um toque, e eu concordei. Ele foi delicado, mas me disse "seu colo do útero está fechado e não tem um dedo de dilatação ainda, vou te encaminhar para a cesárea". Oh balde de água fria!!! Eu conversei com ele, disse que antes de ser encaminhada gostaria de fazer um cardiotoco. Nesses momentos gente, você tem que ser muito humilde. Sabia que tinha que manter a calma e mostrar para eles com tranquilidade que eu sabia que estava tudo bem. Ele disse que a médica estava em uma cesárea, e enquanto isso me encaminharia para o exame. Lá fui eu... Quem fez o exame foi a Rose, e vimos que estava tudo bem com a Manu. Ela disse que iria tentar conversar com a médica responsável, e falou para eu ir caminhar enquanto isso. Lá fui eu dar voltas e voltas na maternidade. Depois de quase 1hr caminhando, uma das enfermeiras me chama e fala que estavam me encaminhando para o centro cirúrgico para fazer cesárea. Eu disse que não, que estava acontecendo algum equívoco, e que gostaria de conversar com a médica responsável antes. Quando a médica chegou, eu comentei com ela que o exame tinha sido feito e estava tudo bem, que eu me sentia ótima, e que gostaria de optar pela indução antes de ser encaminhada pela cesárea. Ela pediu para me examinar pois o outro médico tinha dito que meu colo estava fechado, e eu deixei. Durante o procedimento infelizmente a bolsa rompeu, mas em compensação, ela me disse que estava com 1,5 de dilatação e meu colo estava fino e centralizado (acho que o recém formado sequer encontrou meu colo, só pode, rs), e concordou em me induzir, mas com monitoramento pelo cardiotoco de 30 em 30 minutos, frisando que em qualquer alteração seria encaminhada para cesárea. Mas aí eu já estava feliz da vida, apesar dos procedimentos que tinham sido feitos, pois fugi do bisturi. Então, às 10h40 me colocaram no soro. A Rose me orientou a caminhar, e lá fomos nós (eu e o Fe, sempre, sempre juntos) e voltar a cada 30 minutos para fazer o exame. Lá fui eu... Me lembro que por volta de 12hs, as contrações mais fortes começaram a chegar... Elas me faziam parar de andar para respirar fundo. Continuei caminhando, e por volta de 13hs, a Rose me orientou a ir para o banho quente, já que as contrações estavam realmente tomando intensidade (apesar dela não aumentar a dosagem da medicação, já que como elas criavam ritmo, meu próprio corpo já estava produzindo ocitocina). Aí no banho o bicho pegou... Só que gente, eu esperei e me preparei tanto para esse momento, que me lembro de chorar de alegria dentro do chuveiro, por estar vivendo aquilo. Durante as contrações eu me agachava segurando nos pilares que tinha no chuveiro, e quando passava eu levantava. A contração quando vem, é avassaladora, mas quando passa, você respira e se prepara para a próxima. A cada contração eu pensava "Vem filha, cada vez mais perto". A Rose vinha sempre fazer o exame, me monitorar, me fazer beber água e comer algo leve... Nessas horas desligávamos o chuveiro. Ela sempre me encorajando e motivando, já que acompanhava minha trajetória desde o começo da gestação. Lembro que quando sai do chuveiro (depois de mais de 2hs) as contrações já estavam muito fortes. Eu fazia a sonorização do "a" para tentar controlar a respiração... O Fe tentou massagear minha lombar durante as contrações, mas era extremamente desagradável para mim, e pedi para ele parar (ele disse que eu berrei na verdade, mas não me lembro, rs). A Rose mencionou depois do parto que eu era literalmente uma leoa que estava lutando para trazer sua filha ao mundo. Lembro que a doutora veio me examinar, eu já não conseguia me concentrar no que estava acontecendo, e como não tinha dormido na noite anterior, estava realmente cansada... Ela me falou que eu estava com 5cm (a Rose comentou que isso era perto das 16hs), e eu estava exausta e já me questionava se conseguiria... Resolvi deitar, e durante as contrações me lembro que chegava a cochilar. Cada vez elas doíam mais... Mas não consigo explicar a dor.. É uma dor que limpa a alma, que renova, que transforma... Você aprende a sua força, a sua capacidade... É literalmente padecer no paraíso. Me lembro que por volta das 17hs (o Fe me falou o horário, pq nesse momento, eu já estava na partolandia), eu comecei a sentir uma vontade muito grande de ir ao banheiro. Chamei a Rose e ela disse que era normal, que era meu corpo se preparando para receber a Manu, que era para eu ir e depois disso me concentrar em me movimentar, pois teria muito trabalho pela frente e precisaria me movimentar para trazer a Manu ao mundo, e depois disso me ajudou a ir até o banheiro junto com o Fe. Fiquei sentada, as contrações já estavam mais fracas, mas em compensação, a vontade de fazer força (achava que era o "banheiro" rs) aumentava. Lembro que eu falei "aí Rose, essa vontade de fazer força não passa". Ela respondeu: "Fazer força?", e eu confirmei. Ela pediu para eu me concentrar... Quando estava sentada, comecei a sentir queimar, e falei "aí Rose, tá queimandoooooo". E ela, em tom de estranhamento, já que muito pouco tempo atrás eu estava apenas com 5cm "Queimando? Como assim 'queimando'? Bruna vem aqui para eu te examinar". Eu levantei, e em pé mesmo ela me examinou, e disse com um sorriso no rosto "Bruna, dilatação total, a Manu está chegando". Gente, não existem palavras no mundo que expliquem o que senti nesse momento. Lembro de ter chorado de emoção... A Rose falou que iria buscar a banqueta, que era para eu me manter calma para trazer a Manu ao mundo. Fomos para meu leito, ela apagou as luzes fortes, e aí começou o período expulsivo. Ela pedia para me concentrar nas contrações e fazer força, e descansar nos intervalos. E era isso que eu fazia. O Felipp atrás de mim me abraçava e me segurava após as contrações, me amparando, dizendo que me amava, que aquele era o momento mais especial da vida dele, que ele era grato por eu estar trazendo a filha dele ao mundo.. A Rose também me acalmava, falava muitas palavras de carinho e tranquilidade... Eu só falava "Vem filha, vem..." Sentia ela descer, até que senti o círculo de fogo que tanto falam, e a Rose falou que ela estava coroando. É muita adrenalina gente, um misto de sentimentos inexplicáveis... Ela pediu para eu me concentrar, ir com calma para preservar o meu períneo... Vieram mais umas 3 contrações, e às 18hs12 eu trouxe a minha filha ao mundo! A Rose aparou ela e colocou ela nos meus braços, e eu lembro perfeitamente das minhas palavras e dela parando de chorar quando ouviu: "Filha, nós conseguimos, nós conseguimos!!! A mamãe te ama tanto! Viu filha, deu certo! Deu certo!"... Eu comecei a chorar muito de emoção, e quando olhei, a Rose e o Fe também estavam muito emocionados. Demorou alguns minutos para o cordão parar de pulsar, e foi aí que o Fe cortou. Ela ficou no meu colo assim... A Rose pediu para eu deitar na cama para parir a placenta, e assim eu fiz. Nessa hora, ela me ajudou e depois de orientou a colocar a Manu perto do meu bico do seio, e não é ela que ela encontrou o caminho e começou a sugar no mesmo momento? Eu estava em êxtase, emocionada, com um sorriso que não cabia em mim. A pediatra chegou e perguntou se o papai poderia trazer a Manu para pesar e medir. Eu concordei, mencionei que não gostaria de aspiração, nem colírio e nem banho, ela concordou e foi muito querida, e em questão de 10 minutos a Manu já estava de volta aos meus braços. Quando estavam me encaminhando para o quarto, os médicos vieram ver a Manu. O recém formado estava extremamente sem graça, e falou "nossa, que rápido! Como evoluiu bem seu trabalho de parto ein!"... Eu olhei para a médica e falei humildemente "Doutora, obrigada por respeitar e principalmente, por acreditar". Ela emocionada me respondeu "Querida, você acreditou e lutou pelo que queria, parabéns, sua filha é uma princesa". Muitos médicos e enfermeiras vieram me conhecer (fiquei conhecida como a 'moça das 42 semanas que queria normal'), e a Manu era admirada por todos... Ela ganhou nota 10 no apgar, capurro de 41 semanas e 5 dias, e provou que essa história de sofrimento fetal após 40 semanas é balela! Eu acredito muito que a forma com que eu levei minha gestação e como trouxe a Manu ao mundo foram de extrema importância para ela... Ela é uma bebê muito tranquila, serena, e todos que a conhecem falam que ela tem um rostinho que transmite paz. Queria fazer um relato mais detalhado, mas acho que vocês estavam ansiosos para saber como foi, e resolvi adiantar. Parir é tudo de bom... Recebi alta um dia e meio depois, 2hs depois do parto estava andando com a minha filha no colo, durante o TP meu colostro já descia, ela veio diretamente para meu colo, tomou banho após 24 horas apenas, não foi aspirada...



A vida te surpreende, te vira ao contrário e te mostra que o outro lado pode ter suas vantagens. Tudo está aberto para mudanças, o importante é aceitarmos o momento para que elas aconteçam. Meu parto me transformou, me tornou mulher de verdade, me ensinou tanto. Hoje me sinto completa, tenho o maior amor do mundo nos meus braços e estou vivendo um sonho que não pretendo acordar jamais!!!

3 comentários:

  1. Que relato lindo e inspirador.... me emocionei varias vezes parabéns por acreditar no seu corpo pelo seu empoderamento e sua força fizeram a diferença.

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  2. Chorei baldes!!! Obrigada por compartilhar!!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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