domingo, 4 de janeiro de 2015

Relato de parto - Juliana Mamede


Quando eu tinha 15 anos engravidei do meu primeiro filho. Tenho um irmão que na época tinha 1 ano de vida, minha mãe havia feito uma cesàrea por causa de sua pressão e aumento excessivo do liquido amniótico. Eu vi o quanto ela sofreu no pós-operátório, eu cuidei muito do meu irmão pois ela não podia fazer quase nada. A recuperação dela foi muito dificil! 

Quando eu engravidei, logo nas primeiras consultas avisei que a minha vontade era parto normal, eu pesquisei um pouco e decidi por ele. Os meses foram passando, e meu filho estava previsto para um fds de feriado prolongado, o meu GO decidiu marcar a cesárea para "não correr o risco dele nascer naquele fds", eu marquei para o dia 22 de junho com muita tristeza no meu coração, e ele pediu que fosse ao consultório antes de internar no hospital.

Durante 1 semana eu ficava conversando com meu filho, com meu corpo, pedindo, desejando o parto normal. Eu chorava muito pois não queria me ver passando tudo o que a minha mãe passou.
Chegado o dia do parto, fui na consulta na parte da manhã e de repente, OPA! 4 cm de dilatação. Como assim? Eu não estava sentindo nada! Meu médico mandou correr para o hospital, fiquei em torno de 4 horas esperando internação e aí as dores começaram a surgir, a dilatação foi aumentando, quando entrei no quarto estava com 8 cm. Me mandaram correndo para a sala de pré-parto.
Lá fiz a eco, e sem me perguntar injetaram aquele sorinho (ocitocina sintética), e foi numa troca de plantão das enfermeiras, a nova enfermeira acabou injetando uma dose mais alta do que o médico havia solicitado.
As dores começaram a aumentar demais, a bolsa não rompia, mais uma vez sem me pedir o médico estorou a bolsa, mais uma vez me mandaram correndo para a sala de parto. Eu me contorcia de dor, pedia socorro! A anestesista aplicou a raque em mim (usada em cesáreas) porque as dores estavam muito fortes. Me deitaram na maca, abriram minhas pernas e eu já não sentia mais nada, nem a própria contração, apenas sentia a barriga endurecer e me avisaram ali mesmo que eu teria que fazer força quando sentisse endurecer... mais uma violência obstétrica, meu GO cortou a perineo sem me perguntar. Em 3 empurrões meu primeiro amor nasceu, e eu consegui o parto que eu queria! Meu bebê nasceu perfeito, 3,565kg e 49,5cm ás 20h40... Foi uma felicidade imensa... Eu fui saber que ele cortou quando ele estava costurando!
Ele foi colocado em meu colo quando nasceu, e logo parou de chorar, segurou minha mão e senti aquele momento parar ali. Eu estava completa!
Fui ver meu bebê as 3h da manhã, toda enfermeira que entrava eu pedia pelo meu bebê, perguntava o que estavam dando a ele, escutava do meu quarto o chorinho dos bebês no berçário chamando por suas mães, pelo colo, aconchego, aquele leitinho que só a mamãe de cada um tem. Era um pedido de socorro! Todos choravam! Como eu tinha tomado a raque, demorei um tempo pra voltar, tomar banho, ir ao banheiro, e numa dessas eu desmaiei no banheiro junto com a minha mãe!
Eu não consegui dormir escutando meu filho me chamando! Quando ele chegou no quarto eu fiquei babando, feliz da vida. Mal sabia toda a violência que tinha vivido junto com meu filho que tinha acabado de passar pelo momento mais importante da sua vida: o inicio dela!
Pouco mais de 2 anos depois, eu engravidei novamente. Dessa vez era uma menina, e meu convênio novo estava em carência ainda, não ia conseguir parto pelo convênio e com meu antigo GO.
O jeito foi me informar, me vesti de informação, eu respirava pensando no meu parto. Meu próprio GO indicou um hospital do SUS... as semanas se passaram e a gravidez foi tranquila.
Meu GO me deixou em alerta pois a bebê poderia nascer antes e mais rápido que o primeiro, por já ter feito um parto normal. Meu sonho mesmo era um parto domiciliar, mas estava fora das minhas condições financeiras. Mas descobri um parto humanizado pode ser feito em um hospital também, eu me informei!
O medo me rondava. Será que vou conseguir? Será que não vai ocorrer nenhum problema? Será que vou precisar de uma cesárea? Será que minha filha vai nascer bem? E se não nascer, será que no hospital público ela vai ter o atendimento que precisaria? Quanta preocupação!
Dia 03 de junho eu estava estressada, apreensiva, já estava com mais de 38 semanas e a bebê não nascia, liguei para minha mãe chorando, queria minha bebê em meus braços! Fui jantar fora, comi um bolo que estava desejando a semanas. E meu namorado disse "Agora a Alice já pode nascer!"
Dormi na casa dele, durante a noite as dores começaram e depois passaram, eu dormi. Acordei as 3h com dores fortissimas... "Amor, a Alice vai nascer!!!" Passei em casa, pegamos as malas e fomos em rumo ao desconhecido, ao inesperado, onde não faziamos ideia do que poderia acontecer! E ai meu medo falava alto!
O descaso no atendimento público é muito grande, eu estava com muitas dores quando cheguei lá, e não tinha uma GO de plantão para me atender, meu namorado já nervoso depois de tanto implorar por atendimento, me mandaram direto fazer a eco. As contrações estavam fortes!
Voltei, a GO apareceu e mediu a dilatação, 7cm. Me mandaram direto para a sala de parto, entrei no banheiro, tirei a roupa e coloquei o avental, sentei na cama e mediram de novo. OMG! 10 cm! Eu não tinha muita percepção do que estava acontecendo a minha volta, meu namorado chegou, colheram meu sangue, arrumaram a sala e as dores vindo e a bebê também! A médica me perguntou se poderia estourar a bolsa que ainda não havia rompido, eu permiti pois um parto normal sem anestesia é outra coisa! Meu namorado passou na minha frente para pegar uma cadeira e olhou, a bebê estava coroando!
Eu não recebi sorinho, nem anestesia, minha filha nasceu com a ocitocina do meu corpo, com o amor de sua mãe!
Ela tinha uma circular no pescoço e nasceu de parto humanizado! Com 3,255kg e 49cm ás 7h07 do dia 04 de junho nasceu a minha princesa.
Por causa da circular ela inalou muito liquido, e infelizmente ficaram um tempo aspirando ela, hoje entendi que era necessário. Mas no caso do meu primeiro filho não!
Em menos de meia hora após o parto ela já estava ali no meu colo, mamando, aconchegada nos braços quentinhos de sua mãe. Sentindo meu cheiro, escutando meu coração e minha voz!
Que felicidade tremenda ter minha filha da forma mais natural possível! Hoje eu vejo que não precisava passar por nada que eu passei no parto do meu filho...
E digo com absoluta certeza, é possível! Eu renasci de novo!
E eu que achava que estava completa, me enganei. Esse segundo parto me transformou, hoje me sinto uma leoa!
E sou super a favor de parto normal! Daqui 6 anos quero meu terceiro filho, e com ele, quero um parto domiciliar! Eu sei que vou ser capaz! 
Meu IG é @responsaadolescente onde relato meu dia a dia com os pequenos! Obrigada pela oportunidade de divulgar o que eu passei e em breve ajudar mães que precisam de informações, nada melhor como a experiencia de outra mãe! 
Seu trabalho é ótimo! Beijo grande no seu coração!


Está aí, espero que tenha gostado! Esses partos mudaram minha vida, e até o jeito de ver e cuidar de meus filhos!

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