quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Relato de Parto - Risia Spini


Relato de Parto Natural Hospitalar

Cidade: São José do Rio Preto - Santa Casa de Misericórdia

Risia Doane Garcia Spini

Desde sempre eu falava: "Quando ficar grávida quero tomar anestesia e dormir três dias, não quero ver nada."
Eu tinha certeza que faria uma cesárea, aliás, falei isso desde o inicio da minha gravidez. Quanta inocência. Quanta ilusão. Sim, por que é isso que o sistema e a sociedade faz, nos ilude e nem se quer nos pergunta, pois foi assim que mudei completamente minha opinião. Quando meu ginecologista (o primeiro, pois até o fim foram três), queria marcar minha cesárea para  dia 29/12/2014, pois ele iria viajar e disse que a cesárea seria "minimamente evasiva  Oi?! Eu fiquei me perguntando: "Como seria uma cesárea minimamente evasiva se te cortam a barriga até chegar ao útero?!?" Fui atrás dessa informação e pra minha sorte e azar dele (o médico) vi um vídeo de uma cesárea. Foi o fim, pois não queria aquilo pra mim, eu sempre tive medo de qualquer tipo de cirurgia, ia marcar dia e hora para me cortarem?!? Não mesmo!! Fui fundo na pesquisa e comecei a ver os pós e contras de cesárea e parto normal, que até o presente momento sequer fazia parte do meus planos.

E foi ai que conheci o filme "Renascimento do Parto" e tudo mudou, meu discurso, minha opinião e o médico. Descobri que o médico não fazia parto normal, procurei um segundo que dizia que fazia, porém na segunda consulta me disse "Se correr tudo bem, fazemos o parto normal, vamos esperar, deixar acontecer." Bye Bye meu amigo pra você também. Vi que estava no caminho errado, precisava de uma doula, não sabia se tinha em minha cidade, e dá-lhe pesquisa na internet e amigas e mais amigas, foi quando uma amiga me disse que uma amiga dela tinha feito um parto normal, sem nenhuma violência obstétrica e/ou intervenção médica, e o melhor, ela tinha uma doula. Nessa fase já estava com 20 semanas, ou seja, metade do caminho. Marquei um dia com a Doula, nos conhecemos e ela me indicou o médico que ela já havia trabalhado. Conheci o médico, que pra mim foi a melhor coisa, jovem e atualizado, falava o que eu queria ouvir e o melhor incentivou desde o inicio na primeira consulta o parto normal.


A partir dai tudo correu bem, falei com meu marido sobre minha decisão, que me apoiou desde o inicio, assistimos o filme Renascimento do Parto e quase toda noite durante a gravidez assistíamos juntos um vídeo de parto ou então líamos um relato de parto, esse apoio me fortaleceu e juntos seguimos. Para os outros o que eu era? A louca que não sabe o que esta falando, onde já se viu em pleno século 21 passar dor? Fazer parto normal? Só se tivesse analgesia e com direito a episiotomia! Pasmem!! Isso ouvi da boca de amigos médicos. Não demos atenção, estávamos emponderados, sim, estávamos, pois meu marido esteve junto comigo o tempo todo. A minha família foi apoio total, já a família do meu marido no começo ficaram relutantes, mas aos poucos mostramos pra eles o que era melhor e por fim aceitaram e me apoiaram até o fim também.

A DPP era 04/01/2015, achei que não passaria do natal, nem tampouco do ano novo, pois bem, passou e no dia 08/01/2015, uma quinta feira de lua cheia, às 00:20 minutos minha bolsa rompeu, com 40 semanas e 3 dias, assim que deitei na cama pra dormir. Na hora me deu um desespero, não sabia o que fazer. Tanta informação na cabeça, mas chega na hora da um medinho. Liguei pro meu médico, pra doula e pra minha irmã. Uma hora e meia depois fui pro hospital, fiz o exame cardio pra saber se estava tudo bem com o bebê e um exame de toque, estava tudo bem, mas sem sinal de dilatação e sequer sinal de contração. Por recomendação do médico eu internei para acompanhar a evolução. Minha doula já estava lá. Fomos para o quarto e ela achou melhor eu descansar pois de manhãzinha começaríamos os exercícios. Meu médico também estava lá.

Por volta das 7 da manhã meu médico foi me ver, eu estava bem sem nenhuma dor, tomei café da manhã e começamos a maratona de andar pelo hospital a fora, hora era caminhada, hora era bola de pilates, e assim seguiu até por volta do meio dia, e veio outro exame de toque e nada de dilatação e nem contração. Almocei e comecei a ficar preocupada, afinal já ia fazer 12hrs que minha bolsa havia rompido, porém já havia lido que nem sempre quando a bolsa rompe já seguem as contrações. Descansei mais um pouquinho. Nessa altura já estavam minha irmã, meu marido, minha mãe e minha sogra comigo no quarto, todos respeitando meu espaço e me apoiando com palavras de amor e carinho. Ah, claro a minha doula, pessoa fundamental para que tudo acontecesse.


Quando foi por volta das 13:30hrs as tão esperadas e abençoadas contrações começaram e elas seguiram o resto do dia, cada vez menos espaçadas, cada hora mais doloridas. Continuamos com os exercícios, caminhada, bola e também chuveiro. Sendo que meus acompanhantes revezavam-se para me ajudar nesses exercícios e também tinha massagem (fui muito mimada durante todo o TP).

No fim do dia, já não me lembro a hora, enchemos a piscina, antes, eu jantei uma canja, pensei que não iria conseguir comer, mas foi o que me ajudou a ter forças. Fiz outro toque e estava com 6 de dilatação, o que explicava as dores mais intensas a partir desse momento. Entrei na piscina e meu marido entrou comigo e lá ele ficou, todo lindo me enchendo de carinho e palavras de incentivo, do lado estava a doula e minha irmã, me apoiando mais que tudo, palavras de incentivo e apoio delas não me faltaram. As dores iam e voltavam, cada vez mais fortes, eu ganhava massagem nas costas e muitos beijos do meu marido, dancei, me entreguei e me conectei com meu parto e quando dei por mim já estava de noite, o ambiente estava a meia luz, a água estava morna, eu descansava a cada intervalo das contrações, porém estava muito cansada, mas não podia desistir, sequer por um minuto eu pensei em desistir, eu estava ali e iria até o fim, queria aquilo pra mim. Na verdade depois de algum tempo você se acostuma com as dores das contrações, elas vem numa intensidade e não passa daquilo, você sabe que aguenta outra vez aquela dor. Chamei o médico que fez o último exame de toque, ali, na piscina mesmo e quando ele disse que estava com 9 de dilatação, agradeci a Deus, estava no fim e estava conseguindo.

Passado algum tempo, veio aquela vontade de fazer força, meu Deus quanta força eu fiz, eu só pensava em como eu queria meu parto ali naquela piscina, lembrava da capa do filme e pensava "Quero isso pra mim também, quero que meu filho nasça na água". Mudei de posição, meu marido me ajudou e se esforçou, como ele foi parceiro, mas não achava posição dentro da piscina que ficasse confortável, e ai sim veio as "dores do parto", ai sim começaram a ficar realmente insuportáveis, fiquei de lado, de quatro, de cócoras, deitada e nada. Sempre fazendo força, gritava e me contorcia, já não via mais nada, sim, a famosa Partolândia existe, eu estive lá e naquele momento eu sabia que estava acabando, mas minhas forças também estavam no fim. Apesar de toda a dor, sabia que aquela dor, era dor de amor, dor de uma nova vida chegando. Que essa dor eu podia suportar.

O médico entrou na sala e achou melhor eu sair da água, fiz o que ele pediu e veio outra contração, com força master blaster, foi quando agachei e senti a cabeça no bebê, eu não tinha mais força, queria ficar ali agachada, a dor era grande. Quando passou essa contração master blaster me colocaram na cama e daí foram três contrações mega master blaster e na terceira ele saiu, lindo, rosado, muito cabeludo, um baita olhão aberto, direto pro meu peito, pro meu melhor abraço. 



Só ouvia os choros, do pai que estava ao meu lado, juntamente com minha irmã o tempo todo e das avós, que ficaram no cantinho assistindo tudo e em silêncio, respeitando meu momento, que de alguma forma elas tiveram sua participação. Em seguida, a placenta também nasceu, e o cordão foi cortado depois que parou de pulsar pelo papai, parceiro e companheiro, não nos abandonou nem por um minuto, ficou ali, firme e forte e pariu junto comigo. Eu? Bom, eu era só sorrisos e felicidade, estava realizada. A dor? Que dor? Ela passa e vai embora no mesmo instante e Deus na sua maior perfeição faz a gente esquecer o que acabamos de passar, pra viver dali adiante o maior amor do mundo, e se me perguntarem se faria de novo, com certeza.

Hoje quase um mês depois, você meu filho Glauco Neto chegou, trazendo amor, alegria, união, esperança e gratidão.
Durante todo o relato não citei nomes, mas aqui vai minha gratidão a minha doula e amiga Daniela Maria, meu muito obrigada ao Dr. Marcos Lelis, pelo respeito e total dedicação. E ao meu marido Rogério e minha irmã Aline, pelo amor, carinho e pelas palavras de incentivo o tempo todo, todo tempo, vocês foram incríveis e pariram juntos comigo. Obrigada minha mãe Divina pelo apoio e os banhos no chuveiro, ter você ao meu lado naquele momento fez toda a diferença. E obrigada também minha sogra, Cidinha por respeitar e me apoiar o tempo todo.

Tive duas lacerações, levei pontos, mas mesmo assim passaria por isso tudo de novo, mais de 10hrs de trabalho de parto, mas eu consegui o que eu queria e fiquei muito satisfeita com o resultado. Durante minha gravidez me preparei também psicologicamente caso precisasse de uma cesárea, não era o que eu buscava, mas eu precisava estar preparada, caso isso acontecesse. Não julgo e também não acho que a mãe que opta por uma cesárea seja menos mãe, que aquela que fez parto normal. Sou contra sim a cesárea eletiva.

As mulheres precisam conhecer sua força, dói parto normal? Dói, não vou mentir, mas a recompensa é tão grande que esquecemos de tudo naquele mesmo instante, Deus faz tudo perfeito e fomos feitas para parir. 

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