segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Relato de Parto - Keryn Paulina


A história do nascimento do primeiro bebê, marcada pela violência, mesmo quando a cesárea se fez necessária.


Era dia 17 de junho de 2011 (eu tinha 16 anos), não dormi a madrugada inteira indo ao banheiro, e por volta das 5hrs eu tive um sangramento significativo, minha mãe e meu marido me levaram para a maternidade, e logo o médico constatou deslocamento de placenta e 2 cm de dilatação. Me disse que internaria, e através de medicamentos e repouso tentaria levar a minha gravidez até o fim!

Em uma cadeira de rodas me levaram para o quarto, eu estava muito assustada, tinha muito medo, agora estava sozinha sem saber o que estava acontecendo, veio uma medica me examinar e disse que eu seria a próxima! Indaguei chorando: como assim? Já vai nascer? O médico não me disse isso!


Não me deixaram avisar ninguém, me levaram em um corredor enorme e gelado, em um relógio grande na parede vi que eram 8:25, eu tinha fome e muito medo. Entramos em uma sala me preparam sem me dar nenhuma explicação, eu estava assustada, implorava para pararem, em vão! Logo após a anestesia comecei a passar mal, não conseguia respirar, tudo escureceu, vi uma movimentação intensa de enfermeiros, e alguma medicação intravenosa me foi dada, tão subitamente levei um choque, não conseguia fechar os olhos, porém senti como se não estivesse mais ali.



E ela sem a menor consideração me disse: não é para isso que vc está aqui? Se não nascer agora vocês podem morrer! Nenhuma explicação a mais me foi dada! A partir deste momento minha memória falha, acordo no quarto, sem ninguém, sem nenhuma explicação, sem meu bebê!


Depois de minutos ou horas, chega uma enfermeira com uma medicação, eu pergunto do meu bebê, ela me disse que viria mais tarde, minha mãe chega desesperada junto com meu marido no horário de visita, não sabia que meu parto já tinha sido realizado! Ficou indignada, foi atrás do meu bebê, que logo me trouxeram. Tão pequena, tão frágil, não mamava, não chorava.

Eu não tinha assimilado nada ainda, sentia muita fome, não tinha comido nada desde a noite anterior, mas só me deram café da manhã um dia após meu parto. A sensação de medo e insegurança me consumiam, tive uma recuperação dolorosa, um parto traumatizante, mas uma bebê linda, hoje com 4 anos. Até hoje não sei o que aconteceu, e dói lembrar, o melhor momento foi poder sair daquele hospital com a minha filha assim que pude!





PARTO NATURAL APÓS UMA CESÁREA 




Final de 2014 (com 20 anos) descobri que estava grávida, uma gravidez inesperada, o medo me consumiu, eu, meu marido, e minha filha tínhamos mudado de cidade a pouco tempo, longe da família, como seria meu pós-parto sem a ajuda de ninguém, como cuidaria de duas crianças já que meu marido trabalha 12 horas por dia e não poderia me ajudar com as atividades diárias.

Comecei meu pré Natal em uma UBS (unidade básica de saúde), com um médico de informações vagas, auscultava o coração do meu bebê, e perguntava como eu estava. Tive acesso a 1 ultrassonografia, onde descobri que esperava um menino para minha alegria, agora teria um casal! Me desesperei, como saberia se meu bebê estava bem já que não possuía condições financeiras de me consultar com um médico particular.
Tive três consultas com este médico, uma por mês, e todas muito rápidas e vagas! Na minha quarta consulta não havia médico, o atual tinha se mudado e não nos deram previsão de quando teríamos outro para nos acompanhar ( as mais de 20 grávidas da região). No mês seguinte a informação se repetiu.
Sem médico!

Procurei saber mais relatos, como era o antes, durante, e depois, foi então que encontrei o blog PARTEJAR COM AMOR da Ana Lídia, me encantava a cada relato de empoderamento, mulheres parindo e vencendo o sistema! A cada novo relato lido, a minha certeza aumentava, eu queria um parto natural e humanizado!
E no mesmo dia, verificando minhas redes sociais vi um post de um relato de parto natural humanizado muito lindo da Bruna Cercal, perfeito, chorei muito, talvez fossem os hormônios! Quis saber mais, pesquisei, pesquisei muito. Não havia me passado pela cabeça a possibilidade de um parto natural, tinha plena convicção de que não aguentaria a dor!

Mas como conseguiria através do SUS?
Comecei a procurar na minha cidade, hospitais que priorizassem o parto natural, e graças a Deus encontrei dois próximos! Pronto, estava mais segura ainda do que queria! E a dor? Fomos feitas pra parir! Era nisto que eu me apegava.
Infelizmente eu não poderia ter acesso a uma Doula, isso me causaria uma tremenda satisfação, mas não foi possível.

Após 3 meses sem médico, enfim nos enviaram um! Ele me pediu um monte de exames, eu estava com anemia, infecção urinária, não tinha ganho peso proporcionalmente, pressão alta, e um desespero tomou conta de mim, passei a ter consultas semanalmente, e isso me preocupava, pois quanto mais complicações surgiam, mais distante eu ficava do meu desejo de ter um parto natural!




No dia 28 de abril, por volta das 23:00 senti um incômodo enorme, não conseguia deitar, sentar, dormir, andar não resolvia, então tomei um banho quente e aliviou, não estava na hora!
Dia 29, já era madrugada, por volta das 03:00 quando consegui dormir, e pelas 07:00 acordei com o mesmo incômodo, uma dor desconhecida para mim, uma cólica, um aperto no baixo ventre, uma dor nas costas. Que dor nas costas horrível! E às 09:00 me assustei com uma dor muito intensa, doía tudo, eu chorei, pela dor e por medo. Esta chegando a hora, e não vai demorar, eu já sabia! Como eu sabia? Mãe sente, mãe não se engana! No mesmo dia meu marido tinha que ir ao banco, e eu disse que ficaria bem, então ele foi! E as 13:00 resolvi ir ao posto de saúde para que examinassem a mim e ao meu bebê, porque apesar de já ter sido mãe, não passei pelo trabalho de parto, só queria ter certeza!

Chegando no posto, me deparei com uma estrutura de apoio fraca, eles ficaram desesperados me mandando ir a uma maternidade pois meu TP se iniciara! Eu me mantive calma, pois sabia que as contrações precisariam ser ritmadas, e que ainda tinha tempo de sobra! Retornei a minha casa, tomei um banho, deixei às minhas coisas e as do bebê arrumadas, pensei em uma estratégia, pois as 16:30 tinha que buscar minha filha na creche, e acreditava que até lá já estaria mais perto, pois as minhas contrações aumentavam, já estavam mais intensas e de 15 em 15 minutos! Liguei para o meu marido, e as 15:15 ele veio me buscar, a dor me deixava inconsciente quando vinha, fomos até a creche da minha filha e pedimos para liberarem ela mais cedo, pois eu estava em trabalho de parto e não teríamos como busca-la mais tarde.

Fomos a minha primeira opção de hospital, depois de 40 minutos de espera, meu marido foi se informar, dizendo que eu precisava ser atendida, e recebemos a informação que não estavam realizando partos pois não havia médico para isso!

Já nervosa, nos encaminhamos para minha segunda opção, chegando lá, fui examinada, estava com 4 cm de dilatação, e contrações arrebatadoras ritmadas de 10 em 10 minutos. Após algumas horas, por volta das 18:30, me levaram ao quarto onde meu parto se realizaria, fiquei surpresa com equipamentos tão novos, e em perfeito estado, me senti segura, porque até então, tinha muito medo do sistema público (meu primeiro parto não foi nada humanizado, uma cesárea que até hoje não sei se foi realmente necessária, e acarretou um trauma que ainda não me recuperei).

Meu marido estava comigo, eu estava firme, às dores eram perfeitamente suportáveis, poderia compara-las com minhas cólicas menstruais que diga-se de passagem, são avassaladoras. Depois de uma hora, meu marido teve que ir embora, já estava tarde e na manhã seguinte minha filha teria que ir à creche, e só então ele voltaria para me ver.

De hora em hora uma enfermeira realizava o exame de toque, e nada mudava, as minhas contrações estavam ganhando força, porém, minha dilatação continuava em 4 cm. 
A última vez que eu comi tinha sido no almoço, e bem pouco, era 00:00 quando eu pedi para comer algo, porém, me disseram que não poderiam me dar nada. Neste momento eu já estava com muita ânsia, nem sei se era de fome, ou por causa do TP, sentia vontade de fazer xixi a todo momento, e não demorou muito para eu começar a vomitar constantemente.

Me trocaram de quarto, me colocaram em um "de espera", muito desconfortável, onde eu o dividia com outra mulher, às horas passando, todas que entravam e ficavam na cama ao lado, logo iam para outro quarto, pariam, e saíam de la com seus bebês ao lado.
Eu já estava me repreendendo e me culpando, "porque não esperei mais em minha casa, e tivesse ido ao hospital somente quando estivesse realmente perto de nascer? Não vou aguentar!" Dores intensas, a cada contração, um choro, um gemido, uma angústia, nada de dilatação, 4 cm somente! Eu choramingava para a enfermeira, -Não vou aguentar! Ela com palavras de apoio tentava me tranquilizar! Sabe a comparação com cólica? Às 03:00 da manhã já não cabia mais. As dores me contorciam, nenhuma posição aliviava, o medo sumiu, eu decidi que iria até o fim, mas eu estava muito estressada, parecia que as minhas costas se abriam, a dor na minha pélvis era insuportável, não aguentava meu próprio peso, e para ajudar o vômito não cessava.

Mas um exame de toque, 6 cm, meu Deus que alegria, tá chegando, nunca comemorei tanto 2 cm a mais de dilatação. Me trocaram de quarto novamente, agora o definitivo, o quarto onde eu iria parir! Olho às horas e já são 04:30, "estou exausta, preciso dormir", e a cada contração eu cochilava, quando vinha uma contração eu só gemia, ficava imóvel, não conseguia abrir os olhos de tão cansada, ninguém mais ia me ver, eu estava por horas no último quarto sem ninguém pra me dar apoio, quando as 06:35 eu sinto uma vontade enorme de fazer força, e antes que eu pudesse perceber, já estava ajoelhada na cama fazendo força, uma força que eu não sei de onde veio, eu não aguentava abrir os olhos, como estava fazendo força? Nosso corpo é perfeito! Fomos feitas pra parir. 

Entre uma vontade e outra de fazer força, ouço a voz de um homem dizendo para que eu virasse, pois já consiguia vê-lo! Meio relutante me virei, afinal aquela posição estava boa para mim, meu filho queria nascer assim, mas o médico e mais três enfermeiras quase que a força, me deitaram, suspenderam minhas pernas, nisto o médico viu que a bolsa não tinha estourado, ele disse que teria que fura-la, eu pedi para não o fazer, e mais uma vez não fui ouvida!

"Meu Deus, porque ninguém me ouve?" Estava fora de mim, a cada contração me estimulavam à fazer força, senti coroar, queimava! Ouvia às vozes, "só mais uma, só mais uma", e como foi me dito, na quinta força meu filho nasceu, eu relaxei, me deram ele imediatamente, e na primeira tentativa de oferecer o peito ele aceitou, eu chorei, lindo, perfeito, fizemos um bom trabalho! Meu Benjamin nasceu às 6:49, após 21 horas e 49 minutos de trabalho de parto, com 52 cm e 3.550 kg, de 39 semanas e 1 dia (hoje com 6 meses), de parto natural (após uma cesárea da minha primeira filha, Anny Beatriz, hoje com 4 anos). Minutos depois pari a placenta, sem dor alguma, toda a dor se foi assim que meu bebê nasceu, levei alguns pontos e no mesmo dia já estava andando e tomando banho sozinha.


Só tenho agradecimentos ao blog PARTEJAR COM AMOR, e às mulheres que ofereceram seus depoimentos, pois, por meio destes me encorajei, me empoderei, e tão lindamente pari!

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